segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Mulher na Capoeira

 

Em todas as pesquisas feitas em torno da mulher na capoeira chegamos à mesma conclusão e ouvimos sempre as mesmas historias... de que a mulher foi um tanto discriminada, foi mal vista, mal tratada ou tratada com indiferença.

    E por ser uma luta que veio da escravidão dos negros, é algo que traz a idéia do preconceito incutido em sua bagagem, Mulher fazendo capoeira então nem se fala.
Mas o Brasil, um pais de miscigenações e culturas diferenciadas, onde nasceu a capoeira, abre espaço lentamente para a entrada da mulher nos esportes antes tidos como masculinos.
   O futebol hoje, por exemplo, conta com a presença constante de mulheres. E assim acreditamos que vá acontecer também com a capoeira.

   Encontra - se documentos sobre os Mestres mais antigos, pois basta comentar sobre deles... e todo mundo já ouviu falar. Mas onde estão os documentos que falam de Maria Homem, Calça Rala... ou Satanás???
    E o que se dá por entender que os apelidos dessas mulheres? Que para jogar capoeira ela necessitava se masculinizar...para poder ser aceita na roda de malandros. O que gerava também mais um preconceito em cima do que já custava ser um capoeira... Agora somente bastava ser mulher!!!
   Na historia da capoeira conta se que Bimba foi um dos grandes Mestres que com sua capoeira trouxe mulheres para dentro da convivência masculina das rodas... e entre elas a famosa “Maria 12 Homens, Calça Rala, Satanás, Nega Didi e Maria Pára o Bonde."

 

Boas de brigas

  
 

Personagens lendários como Rosa Palmeirão, a capoeirista que serviu de inspiração para a personagem de Jorge Amado no romance Mar Morto. Além dela, que era respeitada e temida, outra mulher arretada sacudiu o mercado, chamava-se Maria 12 Homens, também capoeirista e assídua freqüentadora das rodas do Cais Dourado e da rampa do Mercado Modelo. O sobrenome de Maria, a história de memória curta de Salvador não registrou, mas o apelido, diz a lenda que ela conseguiu depois de levar 12 marmanjos a nocaute.

   Hoje temos muitas mulheres famosas na Capoeira o que vem a fortalecer essa modalidade esportiva. Colocando em beneficio de aumentar a disciplina no cotidiano, modelar o corpo, obter mais agilidade e auxiliar no tratamento psicológico feminino, como um resgate de seu lado brincalhão que atualmente esta recôndita, agregado com a necessidade de impor seu lugar na sociedade machista!

   A capoeira em si, preferindo esse ou “aquele” estilo de jogo. Sendo ele capoeira é o que vale, elas querem é entrar na roda e jogar.
   Enfim a mulher veio colocar sua graça e delicadeza em um universo que antes somente pertencia aos homens como muitos outros onde elas vem se estabilizando e mostrando a que vieram, não para tomar conta, ou dominar, mas com a idéia de acrescentar, somar e deixar com certeza esses “mundos” mais belos!!!.

  Respeitadas por muitos Mestres sejam eles Angoleiros ou seguidores da capoeira Regional, as mulheres são dedicadas.

   Nas rodas de capoeira onde entram mulheres os rapazes sempre agradecem a presença delas por deixarem a roda mais bonita. E são elas cantadas em musicas pelo mundo inteiro, onde se contam as lendas que as mulheres eram disputadas em uma luta pelos jogadores. As canções trazem a mulher sempre com a saudade, a bela que abandonou o capoeira, ou a mulher que acompanha o jogador em sua vida. E assim até hoje, pois afinal quem lava os abadas? Mas essas Marias, cantadas em versos de Bimba ou Pastinha, são as Marias de hoje, guerreiras, lutadoras incansáveis que provavelmente depois da roda vão embalar seus filhos, fazer a comida, lavar o abada, cantar uma cantiga de capoeira para por o pequenino para dormir.

   Sejam elas brancas, negras, ou amarelas estão aqui e veio para ficar, como conseqüência aumentar a batalha para retirar da capoeira a imagem de marginalização que ficou do tempo dos escravos, ajudar a criarem um mundo diferente para seus filhos e filhas que queiram iniciar na capoeira, aprendendo a respeitar o próximo como igual.

   A importância da mulher na capoeira vai muito além da graça e beleza que elas proporcionam a essa manifestação. A mulher sendo respeitada e valorizada numa roda de capoeira garante que esse espaço seja cada vez mais um espaço democrático, onde a diversidade e a convivência harmoniosa entre os diferentes, significam um exemplo de tolerância e convívio social nesse mundo tão cheio de preconceitos e discriminações. Este exemplo é um dos ensinamentos mais importantes que a capoeira oferece às sociedades contemporâneas.

   Além disso, a mulher é fundamental no trabalho de organização da capoeira. Não podemos pensar numa academia ou num grupo de capoeira, em que as mulheres não ocupem um papel estratégico nessa função. Talvez isso se dê pelo fato da mulher possuir essa capacidade de organização num grau mais desenvolvido que os homens, talvez. Só sei que sem as mulheres nessa função, a maior parte dos grupos de capoeira de hoje em dia não sobreviveriam por muito tempo.


Capoeira para especiais


Capoeira  tem o objetivo, não apenas de oferecer aos deficientes um espaço para treinar, mas garantir, também, a socialização deles através do esporte.

“A capoeira serve de instrumento para o desenvolvimento físico, mental e social. Os portadores de necessidades especiais conseguem aderir à prática do esporte, seja realizando movimentos, ou até mesmo cantando. O que em um primeiro momento pode gerar uma limitação, na verdade passa a ser um desafio”.

Para a pedagoga da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE, Sanira Herculano, a inclusão dos alunos com necessidades especiais em academias, entre outros benefícios garante uma melhora significativa na autoestima. “Eles têm um ganho muito maior quando se entrosam. Numa roda de capoeira todos se sentem iguais. Na APAE temos alunos que não conseguem identificar os dias da semana, mas hoje já identificam o dia que tem capoeira. Essa igualdade de oportunidade é fundamental para a socialização.”, informou a pedagoga.

A capoeira é considerada um esporte com grande capacidade de incluir e agregar pessoas, pois nasceu da luta de um povo oprimido em busca de liberdade, a questão da inclusão está na essência da atividade. Ao longo de sua história sempre esteve associada àqueles que lutaram pela afirmação de sua identidade, direitos e valores culturais.

Capoeira na reabilitação


O sedentarismo é um problema cada vez mais presente na sociedade moderna, em que fatores como falta de tempo, alimentação inadequada, inatividade física, estresse, juntamente com o excesso de gordura corporal contribuem para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, incluindo problemas cardiovasculares.1,2 Além disso, mudanças na alimentação, com maior consumo de alimentos tipo fast-food, inclusive por crianças, contribuem cada vez mais para o surgimento precoce de problemas relacionados ao sobrepeso e aos distúrbios metabólicos.3 Quanto aos fatores genéticos, estima-se que possam responder por 24% a 40% das diferenças no índice de massa corporal (IMC), por determinarem diferenças em fatores como taxa de metabolismo basal, resposta à superalimentação, dentre outros.4-6
O sedentarismo se constitui em fator de risco para dislipidemias e intolerância à glicose. Além disso, o estresse pode alterar vários parâmetros bioquímicos, levando a problemas cardiovasculares como elevação da pressão arterial sistêmica e da frequência cardíaca de repouso.7,8
Também já é bem estabelecido que os atletas ou as pessoas bem treinadas apresentem bradicardia de repouso com uma diminuição de aproximadamente 20 batimentos em relação aos indivíduos sedentários. Tal diminuição da frequência cardíaca justifica-se por uma maior atividade autonômica com aumento do tônus vagal, modificando dentre outras coisas, os reflexos cardiorrespiratórios.9,10 Outro parâmetro cardiovascular que sofre alteração benéfica com a atividade física é a pressão arterial, que tende a apresentar redução nos seus valores de repouso após o treinamento crônico ou mesmo redução transitória durante até 24 horas de uma única sessão de exercício.11-14
Entretanto, poucos são os trabalhos na literatura que têm se voltado para o estudo dos parâmetros cardiovasculares relacionados a esportes de lutas e, particularmente, com a capoeira. Assim, este trabalho buscou elucidar algumas alterações no sistema cardiovascular provocadas pela prática regular de capoeira.

Metodologia


Estudo epidemiológico descritivo constituído por 28 indivíduos do sexo masculino (faixa etária 17 anos a 34 anos), sendo 15 praticantes de capoeira e 13 indivíduos sedentários escolhidos ao acaso entre estudantes universitários. Foram incluídos indivíduos que praticavam capoeira há no mínimo dois anos com regularidade de três vezes/semana. Informações socioeconômicas, hábitos de vida e prática de atividade física foram obtidas através de formulário estruturado. Foram determinadas as medidas antropométricas de composição corporal e parâmetros cardiovasculares.
O estudo foi realizado em concordância com as diretrizes da Resolução 196/96 do CNS. Para participação no estudo, os sujeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O protocolo do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Piauí, sob o n° 95/2006.
Indicadores do estado nutricional
O estado nutricional foi avaliado através do índice de massa corporal (IMC) e classificado segundo os critérios propostos pela Organização Mundial de Saúde.15 A avaliação da composição corporal foi realizada por meio da medida de dobras cutâneas com adipômetro (marca Lange) utilizando o protocolo de Jackson e Pollock para sete dobras cutâneas: tricipital, subescapular, suprailíaca, abdominal, superior da coxa, peitoral e axilar média.16
Todos os procedimentos foram realizados no Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Piauí. Inicialmente, todos os indivíduos dos grupos sedentário e praticantes de capoeira foram pesados individualmente, utilizando-se uma balança antropométrica (marca Filizola), com capacidade para 150kg e precisão de 100g. A estatura foi determinada em estadiômetro com precisão de 0,1cm. Os protocolos experimentais foram realizados aos sábados sempre no período matutino, entre 7 horas e 9 horas da manhã, no primeiro semestre de 2007.
Após avaliação antropométrica, avaliou-se o consumo máximo de oxigênio através do teste de campo de Cooper de 12 minutos em pista de atletismo de 400m de comprimento. Os valores de pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) foram determinados com auxilio de um estetoscópio clínico marca BD e esfigmomanômetro aneroide. A frequência cardíaca foi obtida batimento a batimento através de um monitor de frequência cardíaca (Polar – modelo F-11). Todos os parâmetros hemodinâmicos foram monitorados continuamente no repouso, ao 1°, 5° e 10° minutos após o teste de Cooper.
Os dados foram processados através do programa GraphPad Prism 5.0 e expressos como média±EPM. Para avaliação dos parâmetros antropométricos foi utilizado o teste t de Student para dados não pareados. Para avaliação das variáveis hemodinâmicas foi utilizada ANOVA seguida de teste de Tukey. O nível de significância foi estabelecido em p<0,05.

Resultados


Na Tabela 1 é apresentada a caracterização da amostra com valores médios dos parâmetros antropométricos, composição corporal e capacidade cardiorrespiratória. Não houve diferença significativa entre os indivíduos sedentários e os capoeiristas quanto à idade, peso, estatura, relação cintura-quadril (RCQ), percentual de gordura e massa magra corporal. Por outro lado, os valores do IMC dos capoeiristas foram significativamente maiores que os encontrados nos indivíduos sedentários (p<0,05). Os capoeiristas apresentaram maiores valores de distância percorrida e de VO2máx quando comparados aos sedentários (p<0,05). Não houve diferença significativa nos valores médios da RCQ, percentual de gordura e percentual de massa magra.
Na Tabela 2 são apresentados os resultados dos parâmetros cardiovasculares de pressão arterial sistólica (PAS), pressão arterial diastólica (PAD), pressão arterial média (PAM), frequência cardíaca (FC) e duplo-produto (DP). Não houve diferenças significativas entre os capoeiristas e os indivíduos sedentários nos valores de PAS, PAD, PAM, FC e DP. Todavia, ao se fazer uma comparação intragrupo, observam-se alterações nos valores de PAS, PAM, FC e DP no 1°, 5° e 10° minutos, tanto relacionados ao período de repouso como entre si. Aproximadamente 80% dos indivíduos sedentários apresentaram capacidade cardiorrespiratória classificada como ruim ou muito ruim, enquanto entre os capoeiristas, 60% apresentaram desempenho bom e 5% muito bom.

Discussão


No presente estudo não foram observadas grandes diferenças nos parâmetros antropométricos relacionados ao peso, estatura, composição corporal, ou nos parâmetros cardiovasculares analisados (pressão arterial e frequência cardíaca) entre os indivíduos sedentários ou praticantes de capoeira.
O índice de massa corporal (IMC) é um parâmetro de grande utilidade para estudos epidemiológicos, possibilitando traçar o perfil de uma determinada população em relação ao seu estado nutricional em várias situações,17 contudo seu uso deve ser cauteloso, visto que apesar do IMC>30kg/m2 ser utilizado como critério para definir obesidade, na verdade ele não mede o excesso de gordura corporal.18 No presente estudo, os capoeiristas apresentaram valores médios de IMC classificados como sobrepeso, sendo maiores que os encontrados entre os sedentários. Entretanto, tal fato não caracteriza excesso de peso, considerando que o percentual de gordura corporal encontra-se dentro da faixa de normalidade para a idade e sexo dos indivíduos estudados.
Além disso, é conhecido que a inatividade física está diretamente relacionada a problemas de obesidade tanto em adultos como em crianças.8,19 Diversos estudos demonstram efeitos do treinamento aeróbico e também do treinamento de força na redução da massa corporal total, diminuição da massa gorda e da gordura corporal relativa, bem como na manutenção ou aumento da massa isenta de gordura.20-22 Nesse sentido, em estudo com homens obesos, demonstrou-se que o grupo praticante de exercício apresentou perda de massa corporal relacionada com significativa diminuição na massa gorda, mas não na massa isenta de gordura.23,24
A frequência cardíaca de atletas e não atletas mais elevada no 1°, 5° e 10° minutos após o teste de Cooper de 12 minutos, relacionada ao repouso, pode ser resultado de uma aumentada descarga simpática, que acarreta aumento da frequência cardíaca, contribuindo para um maior débito cardíaco, necessário para melhor oxigenação muscular. Comparativamente, a frequência cardíaca dos praticantes de capoeira no 1° e 5° minutos após teste de Cooper de 12 de minutos apresentou tendência a valores mais elevados que no grupo de sedentários, o que poderia ser explicado pelo maior esforço executado pelos primeiros, evidenciado pela maior distância percorrida pelos capoeiristas. Além disso, resultados indicam que cerca de 65% dos indivíduos do grupo de capoeiristas tiveram a aptidão física classificada como boa ou muito boa, enquanto no grupo de sedentários cerca de 80% dos indivíduos apresentaram resultados classificados como ruim ou muito ruim, corroborando um maior esforço físico entre os praticantes de capoeira. Todavia, apesar de o teste de Cooper ser uma metodologia bem estabelecida na literatura, este apresenta alguns vieses e limitações que podem levar a interpretações erradas, subestimando ou superestimando as capacidades cardiopulmonares dos indivíduos avaliados. A fim de eliminar essas limitações e vieses de interpretação, existem hoje metodologias diretas e bem mais confiáveis como o teste ergométrico ou até mesmo a ergoespirometria.
É bem estabelecido na literatura que o treinamento físico nos seus mais variados tipos leva à diminuição da frequência cardíaca de repouso,25 sendo que a frequência cardíaca de repouso de atletas altamente treinados é reduzida para cerca de 50 batimentos por minuto, enquanto tal parâmetro no não atleta em repouso é em média 75 batimentos por minuto.26 Os resultados aqui encontrados para os praticantes de capoeira são diferentes dos referidos acima para os atletas, provavelmente em razão de a amostra utilizada não ser composta por atletas altamente treinados, mas por indivíduos com prática de atividade física voltada para o lazer e condicionamento físico.
A análise da variação da frequência cardíaca, em ambos os grupos, maior no intervalo 1-5 minutos que no intervalo 5-10 minutos após teste de Cooper de 12 minutos, e também a tendência a valores mais baixos de frequência cardíaca nos capoeiristas quando comparados aos não praticantes, representa importante diferença do ponto de vista prático-clínico, visto que aponta para melhor condicionamento físico dos capoeiristas, permitindo recuperação mais rápida após realização de esforço físico, pois o menor estresse à musculatura cardíaca e à vasculatura torna os indivíduos mais aptos à realização de novo esforço físico em um período mais curto.27 A frequência cardíaca de recuperação pós-exercício, especialmente no intervalo de 1-5 minutos, é importante preditor de melhor função cardiorrespiratória, sendo reconhecido que imediatamente após cessação de exercício físico a frequência cardíaca diminui rapidamente pela redução da ativação simpática cortical, embora não retorne imediatamente aos níveis basais.28-31
Do mesmo modo, resultados apontando para maior redução da pressão arterial média nos intervalos 1-5 minutos e 5-10 minutos após realização do teste de Cooper de 12 minutos no grupo de capoeiristas, ainda que não estatisticamente significativos, apresentam importância clínica, visto que redução de cerca de 6mmHg na pressão arterial no intervalo de 1-5 minutos, e de 2mmHg no intervalo de 5-10 minutos, evidenciam melhor recuperação dos indivíduos submetidos à prática regular de atividade física, nesse caso a capoeira. Além disso, esse fato torna-se ainda mais importante quando se leva em conta o conhecimento de que a prática de atividade física regular reduz a pressão arterial tanto em indivíduos normotensos quanto em hipertensos.
É bem documentado na literatura, que um dos testes mais utilizados para a determinação do condicionamento aeróbio é a determinação do VO2máx,32-34 que pode ser aplicado em vários tipos de esporte e atividade física. A medida de VO2máx pode ser também associada à atividade antioxidante, em que o aumento dessas enzimas em indivíduos submetidos a programa de treinamento resistido de oito semanas promoveu um aumento médio de 24% no VO2máx.35 Apesar de não ter sido avaliada a atividade enzimática no presente estudo, observou-se que a prática regular de capoeira provocou melhora no consumo de oxigênio, evidenciando que esse tipo de atividade é de grande valia para um bom condicionamento físico.
Outro parâmetro hemodinâmico utilizado como preditor da aptidão cardiovascular corresponde ao produto da frequência cardíaca pela pressão arterial, denominado duplo-produto (DP=FCxPA), o qual se correlaciona com o consumo de oxigênio miocárdico (MVO2), sendo considerado um indicador fidedigno do trabalho do coração durante esforços físicos contínuos aeróbicos.36 Em estudo realizado com exercícios resistidos de supino reto sentado e supino reto deitado não foram encontradas alterações nos parâmetros hemodinâmicos, inclusive no duplo-produto,37 enquanto em outro estudo em que foram avaliados os parâmetros hemodinâmicos em treinamento de força para três séries de exercícios de grandes grupamentos musculares houve aumento significativo nos valores de pressão arterial sistólica assim como do duplo-produto.38 No presente estudo não foram observadas diferenças nos parâmetros hemodinâmicos: pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica, pressão arterial média, frequência cardíaca e duplo-produto entre os indivíduos sedentários e capoeiristas, embora tenha sido percebida uma clara tendência de melhor adaptação cardiovascular dos indivíduos que praticavam regularmente a capoeira.

Conclusões


A partir dos dados apresentados neste estudo, observa-se que os parâmetros antropométricos relacionados ao percentual de gordura e massa magra além dos parâmetros cardiovasculares de frequência cardíaca, pressão arterial sistólica, diastólica e média encontram-se dentro dos valores normais para os grupos estudados. Em ambos os grupos, sedentários e capoeiristas, observa-se uma bradicardia pós-teste no intervalo de 1-5 minutos. Em contrapartida, apenas no grupo de capoeiristas encontram-se valores maiores de pressão arterial média no referido intervalo 1-5 minutos, sugerindo uma melhor recuperação ao esforço físico. Tendo em vista os dados preliminares apresentados e as limitações daqueles encontrados, sugerem-se novos estudos com amostragem maior e métodos diretos de avaliação da capacidade cardiorrespiratória.

Potencial Conflito de Interesses
Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes.
Fontes de Financiamento
O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.
Vinculação Acadêmica
O presente estudo não está vinculado a qualquer programa de pós-graduação.

Referências
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Capoeira para Crianças


A capoeira é história,filosofia de vida,sentimento de brasilidade,música,dança,ritmo,amor,poesia,educação,
cultura e é a arte de brincar com nosso corpo no tempo e espaço,não só do ponto de vista da psicomotricidade,mas da contextualização da sua própria identidade histórica. Tudo isto é movimento e se é movimento,é vida. Movimento e vida são sinônimos de criança.
 É um movimento que o ser humano age no meio ambiente para alcançar objetivos desejados satisfazer suas necessidades,como a da comunicação,a expressão da criatividade e do sentimentos.É através do movimento que o ser humano aprende sobre sí mesmo.
A vivência corporal da criança deve estar sempre engajada num comportamento de exploração e de prazer na descoberta,fazendo com o seu corpo descubra e desafie seus próprios limites,que ousem em situações de perigo,que relacione logicamente e que se torne cada vez mais criativo e espontâneo,atitudes exigidas para o homem nesse final de século.
As crianças são originais e únicas,mesmo fazendo parte de uma sociedade,são todas diferentes umas das outras.Dessa forma,cada indivíduo na sociedade,tem seu jeito de ser,sua essência, sua história.É respeitando
as diferenças e reconhecendo a originalidade de cada criança,que a capoeira entra no mundo infantil,como parte de um todo que veio a complementar e não fragmentar sua vida.
Através da capoeira,a criança também poderá desenvolver a descoberta e a investigação do seu corpo,fazendo ação de busca ao conhecimento e de comunicação com outro ser humano.Só que para isto se efetivar precisamos da figura do adulto,neste caso o professor.

Capoeira na Terceira idade


Todos sabemos da importância da prática de atividades esportivas, para a nossa saúde, principalmente em pessoas com uma idade mais avançada. É nessa época que o corpo demonstra o acúmulo dos anos vividos e começa a trabalhar mais devagar, e a ter alguns problemas relacionados à idade. Hoje, graças ao poder de informação muitas pessoas da terceira idade estão se preocupando mais com a sua saúde tanto física quanto mental e estão procurando formas de se exercitarem a fim de terem uma vida mais saudável. E foi assim que muitos jovens da terceira idade começaram a procurar academias de capoeira
.
Benefícios
A capoeira melhora o desempenho físico, corrige a postura corporal, aumenta o reflexo, a capacidade cárdiorespiratória e conseqüentemente o condicionamento físico. Além do corpo, a capoeira também desenvolve a saúde mental de quem a pratica. Melhorando a memória, desenvolvendo o raciocínio e aumentando a auto-estima.

A parte musical da capoeira, também tem o seu papel importante. Pois a música tem o poder de entreter as pessoas e fazer com que desenvolvam um trabalho em conjunto, através da percepção musical e do relacionamento com as pessoas. 

Qual o limite de idade?
Não há limites. Basta ver o exemplo de Mestre João Pequeno, discípulo direto de Mestre Pastinha, que aos 89 anos ainda sustenta o título de capoeirista mais velho “em atividade”. O próprio Mestre Pastinha, quando muito velho e quase cego pela catarata, entrava na roda e era imbatível.
  
Vou ter que fazer acrobacias?
Não. Existem vários projetos de capoeira, voltados para pessoas da terceira idade e todos eles trabalham a capoeira com movimentos adaptados para que todos que quiserem possam praticá-la. Basta ter força de vontade.

Onde encontrar?
Como já disse, existem vários projetos de Capoeira Adaptada para a terceira idade. É só você procurar no Google que com certeza você vai achar. Só não se esqueça de consultar um médico antes e fazer todos os exames necessários. Depois que encontrar uma academia, converse com o professor, assista algumas aulas e entre na roda.
Com a prática regular de atividades físicas e uma alimentação adequada, com certeza os jovens da terceira idade, serão os jovens da melhor idade. Pratique esporte, pratique capoeira e viva melhor.

A capoeira e a Globalização




É preciso entender que o reconhecimento da capoeira como Patrimônio Cultural do Brasil não significa seu tombamento, que é uma política de preservação do Iphan destinada a bens materiais como museus, igrejas, casarões antigos, etc. A capoeira, como cultura, é um bem imaterial que, ao ser reconhecido como patrimônio nacional, será contemplado com um plano de salvaguarda que aponta para políticas públicas necessárias para manutenção da arte. Como sabemos, a capoeira está no mundo e não corre riscos de extinção, mas muitos mestres, principalmente os mais antigos, têm dificuldades de ensinar e transmitir seu saber. Por isso duas das principais recomendações de salvaguarda que propusemos foram o pedido de aposentadoria especial para o mestre de capoeira e o reconhecimento do seu notório saber, para que possa ensinar em escolas, academias e universidades sem precisar de diploma de educação física.
Maurício Barros de Castro
Assistente de Coordenação do Inventário para Registro e Salvaguarda
 da Capoeira como Patrimônio Cultural do Brasil.
Em julho de 2008 a capoeira será reconhecida como “patrimônia” cultural imaterial do Brasil. Mas até chegar aqui, ela e os capoeiristas que são e foram seus vetores de carne, sangue, jogo e sonhos tiveram um longo caminho a percorrer.
Eis um breve panorama da história deste jogo-dança-luta, com sua malícia - sua ética alternativa à hegemônica, com raízes na africanidade e na  malandragem. Eis o surprendente "jogo" brasileiro que conquistou as metrópoles dos chamados Países Centrais através do trabalho e da iniciativa particular de jovens mestres aventureiros, sem o apoio financeiro ou estratégico de órgãos governamentais, entidades privadas, a mídia ou o capital estrangeiro e/ou nacional.
A capoeira carioca dos 1800s
No Rio de Janeiro, durante todo o século XIX, os arrogantes e violentos capoeiras, inicialmente escravos africanos ladinos (já adaptados ao Brasil) e, mais tarde também os crioulos (nascidos do Brasil), reuniam-se em maltas que eram o terror das "pessoas de bem" e o flagelo das autoridades policiais.
Ao contrário de algumas teses "puristas e heróicas", a capoeiragem carioca dos 1800s não era uma "luta de libertação" no sentido mais simplista; a capoeira e as fugas para os quilombos eram práticas paralelas, mas geralmente dissociadas. A capoeira era algo que estabelecia uma hierarquia entre a massa escrava e delimitava determinados territórios urbanos. Ficar na cidade como escravo, mas pertencendo a uma malta, era uma opção política e de poder que os escravos capoeiras escolhiam voluntariamente.
A partir aproximadamente de 1850, as maltas começaram a absorver pardos e mestiços; imigrantes portugueses pobres como o engajado (que pagava a passagem transatlântica com cinco anos de trabalho em condições quase semelhantes às dos escravos) e o fadista (o "malandro" da Mouraria lisboeta com sua temível navalha-de-ponta, o "Santo Cristo"); brancos brasileiros pobres; militares e policiais; jovens estroínas, ricos e violentos, da jeunesse dorée carioca - os elegantes cordões; e seus equivalentes portugueses - os marialvas; marinheiros brasileiros e de muitas outras nacionalidades, muitos deles, desertores; estrangeiros das mais diversas nacionalidades - os estrangeiros eram 22% em 1885; em 1891, p.ex., Moyses Corull,  um negro norte-americano residente à rua da Saúde, foi preso por estar em "exercícios de capoeiragem"  (SOARES, 1994, p.134).
Isso sem falar nos temidos capoeiras que "não recebiam influências da capoeiragem local nem de outras freguesias, fazendo vida à parte, sendo capoeira por sua conta e risco", como o temível Manduca da Praia, que "respondeu a 27 processos por ferimentos leves e graves, saindo absolvido em todos eles pela sua influência pessoal e de seus amigos".
Soares recorta um artigo de 9/1/1891 em Novidades:
Quase todos os verdadeiros capoeiras foram do serviço de altos personagens políticos, e tudo o que fizeram foi contando com a proteção dessses personagens, ou por mando deles.  Serviram em todas as situações e a todos os governos da Monarquia. (SOARES, 1994, p.263)
No Rio, a capoeira - uma capoeira violenta sem berimbau - foi miscigenada quase que nos seus primórdios.  Capoeirista "foi desde a nobreza, com o Barão do Rio Branco, dentre outros, até o negro escravo" (REGO, 1968, pp. 260-261).

Curiosamente, esta prática perseguida pela polícia acabou defendendo a honra e o pavilhão nacional. Em 1865, o Brasil, a Argentina e o Uruguai entraram em guerra com o Paraguai. O exército brasileiro formou batalhões de capoeiras; muitos foram agarrados à força nas ruas.
Na própria marinha, o ramo mais aristocrático das Forças Armadas, destacou-se a presença dos capoeiristas.  Não entre a elite do oficialato, mas entre a "ralé" da marujada (que cinquenta anos depois iria se rebelar na Revolta da Chibata).
Marcílio Dias (o herói da Batalha do Riachuelo, embarcado no Parnahyba) era rio-grandense e foi recrutado quando capoeirava à frente de uma banda de música. Sua mãe, uma velhinha alquebrada, rogou que não levassem seu filho; foi embalde, Marcílio partiu para a guerra e morreu legando um exemplo e seu nome. (Correio Paulistano, 17/6/1890)
Os capoeiras do Batalhão de Zuavos, especialistas em tomar as trincheiras inimigas na base da arma branca, fizeram misérias na Guerra do Paraguai.
Manuel Querino descreve-nos "o brilhante feito d'armas" levado a efeito pelas companhias de "Zuavos Baianos" no assalto ao forte Curuzu, quando os paraguaios foram debandados.
Destacam-se dois capoeiras nos combates corpo-a-corpo: o alferes Cezario Alves da Costa - posteriormente condecorado com o hábito da Ordem do Cruzeiro pelo marechal Conde d'Eu, e o alferes Antonio Francisco de Melo, também tripulante da já citada corveta Parnahyba que, entretanto, teve sua promoção retardada devido ao seu comportamento, observado pelo comandante de corpos:  "O cadete Melo usava calça fofa, boné ou chapéu à banda pimpão e não dispensava o jeito arrevesado dos entendidos em mandinga" [p.79]. (REIS, L.V.S., 1997, p.55)
Mais tarde, já no final dos 1800s, as maltas cariocas tornam-se fenômeno de mídia, com tanto espaço nos jornais quanto as contemporâneas gangues do narcotráfico. Estas maltas dividiam-se em dois grandes grupos, os Nagoas e os Guaimus .  Esta capoeira carioca, dos 1800s, foi dizimada com a Proclamação da República e a subsequente perseguição policial, na década de 1890.
Mas estas maltas cariocas, dos 1800s, deixaram um herdeiro: o malandro.  Nas décadas seguintes, a capoeiragem das maltas vai enxamear o imaginário carioca e especificamente o do samba, desembocando na figura cantada, encantada e decantada do valente/malandro, nas décadas de 1920 e 1930.
A capoeira baiana dos 1900s
... as formas "clássicas" praticadas nas áreas portuárias da Baía de Todos os Santos, emergiram numa data posterior, ao final do século XVIII. (ASSUNÇÃO, 2005, p.7)
A capoeira é normalmente associada à Bahia, mas a capoeira baiana, com a roda e o berimbau, e com os elementos rituais e lúdicos (que é a capoeira praticada no mundo inteiro em nossos dias), só se torna "historicamente visível" (e logo a seguir, hegemônica) a partir aproximadamente de 1900, com o temido Besouro Cordão-de-Ouro e os "bambas da era de 1922", descritos por mestre Noronha:
Em 1917 famos convidado para uma roda de capoeira na curva grande... roda de capoeira que so tinha gente bamba todos elles estava combinado para nos escurasar junto com a propria policia... corgiu (surgiu) uma forte discucão o sargento saqou uma arma de fogo que foi tomado da mão do sargento pello capoeirita que ten o apelidio Julio cabeica de leitoia um grande dizodeiro...  foi um caceite disdobrado...
Estou relebrando os tempo passado na curva grane (grande) defrante au bale (baile) da bisça - Mestre Noronha. (NORONHA , 1993, p.30)
Na década de 1930, Getúlio Vargas tomou o poder e, procurando um apoio popular para a sua "retórica do corpo" (TAVARES, 1984), permitiu a prática (vigiada) da capoeira: somente em recintos fechados e com alvará da polícia.
Mestre Bimba (1900-1974) aproveitou a brecha e abriu a primeira "academia" de capoeira baiana, dando início a um novo período - o das "academias" - após o período de "escravidão" e de "marginalidade".
Não é difícil detectar nesta movimentação a mesma estratégia que levava os negros dos grandes terreiros de candomblé de Salvador ou os músicos negros do Rio de Janeiro a se aproximarem de figuras representativas da sociedade global.  Tratava-se realmente de uma estratégia de aproximação interétnica, em busca de uma certa proteção legal, eclesiástica e patriarcal, característica do transculturalismo brasileiro que, do lado das classes dirigentes, ensejava, por meio de uma síntese entre povo e nação, a formação de uma cultura nacional-popular. (SODRÉ, 2002. pp.64-65)
“Os capoeiristas, bambas e valentões, vão sendo substituídos em importância, na cena principal da capoeira, por mestres (como Bimba e Pastinha, e também outros das gerações mais novas como Waldemar da Liberdade, Canjiquinha, Caiçaras etc.) que com zelo vão exercer uma nova ação civilizadora dentro da capoeira”, comenta lucidamente Fred Abreu (IN NORONHA, 1993, p.120)
O dr. Angelo Decânio Filho - Mestre Decânio (1925) - sintetiza, com maestria, a determinante contribuição dos mestres Bimba e Pastinha (1889-1981) na feitura da capoeira contemporânea:
“(...) em todo o jogo existe a semente da maldade e em toda luta encontramos movimentos portadores do germe lúdico, dentro do conjunto do aperfeiçoamento do Ser.
De modo similar, enquanto Mestre Pastinha enfatizou os aspectos metafísicos, éticos e até religiosos da capoeira, preocupando-se com a perpetuação da sua obra; Mestre Bimba dedicou-se sobretudo aos componentes pragmáticos, legalização da sua prática, o aperfeiçoamento de sua técnica e a sua aplicação à defesa pessoal.” (DECANIO, 1996, pp. 33-34)

Mestre Acordeon, outra lenda viva, ex-discípulo de Bimba, atualmente ensinando na Califórnia, analisa de modo semelhante a complementaridade dos papéis dos criadores dos estilos "angola" e "regional", ao enfocar as definições: "capoeira é mardade" (Bimba); "capoeira é tudo que a boca come" (Pastinha).
Apesar da aparente incongruência destas definições de capoeira, elas não são conflitantes.  Para Pastinha, o sábio mestre amado por tantos devido á sua personalidade afável, capoeira é tudo que a boca come - todas as coisas que vêm com a vida.  Para Mestre Bimba, o gigante de personalidade forte, ex-carpinteiro, ex-estivador, ex-carroceiro, criador da capoeira regional, e mestre extremamente respeitado em sua arte, capoeira é falsidade, a maneira de lidar com os perigos da vida.
Estas respostas complementam-se e resumem as filosofias de dois dos maiores nomes da história da capoeiragem. (ALMEIDA, Mestre Acordeon, 1986, pp.1-2)
Da Bahia para o Rio, São Paulo, Brasil e mundo
A partir aproximadamente de 1950, e mais fortemente 1960, capoeiras baianos emigraram para o Rio e São Paulo e, em breve, em 1970, fortalecidos por jovens e talentosos jogadores das duas grandes metrópoles, as duas cidades começaram a dividir a hegemonia da capoeiragem com a Bahia.
A capoeira também começou a se tornar popular em outras capitais brasileiras e as academias começaram a se multiplicar em progressão geométrica. E logo depois, em 1971, a capoeira é ensinada na Europa (Nestor Capoeira no "London School of Contemporary Dance"); e, em 1975, nos Estados Unidos (Jelon Vieira e Loremil, em Nova Iorque). Hoje em dia, estimamos uns 1.000 professores de capoeira na Europa; outros 1.000 nos Estados Unidos e Canadá; uns 500 espalhados por todos os outros continentes; e uns 25.000 professores de capoeira no Brasil.
O mais espantoso é que toda esta dinâmica foi vetorizada pela iniciativa particular de jovens capoeiristas, sem o apoio financeiro ou estratégico de órgãos governamentais ou entidades privadas. A capoeira, em sua história, ou no que conhecemos dela a partir de 1800, sempre caminhou com suas próprias pernas; melhor dizendo, com as pernas dos próprios capoeiristas.
A partir de 1985, aumentou o interesse de estudiosos da área acadêmica; apareceram artigos, alguns livros e, no mínimo, uns 50 trabalhos (mestrado e doutorado) no Brasil e exterior em oposição às décadas anteriores onde quase nada foi feito.
Hoje, século XXI, a capoeira vive a sua "época de ouro": patrimônio imaterial brasileiro e sucesso de "crítica e público" no estrangeiro.
Nestor Capoeira (Nestor S. dos Passos Neto), iniciado por mestre Leopoldina (1933-2007), recebeu a "corda-vermelha" (graduação máxima) do Grupo Senzala em 1969. Tem quatro livros enfocando a capoeira publicados no Brasil (Ed. Record) e também na Alemanha, França, Estados Unidos, Holanda, Dinamarca, Finlândia e Polônia. Mestrado e Doutorado em Comunicação e Cultura (ECO-UFRJ, 1995 e 2001, orient. prof.dr. Muniz Sodré).

Capoeira e Auto Estima


A capoeira é uma pratica de variadas facetas,de múltiplas utilidades. As divergências sobre ela continua no seus estilos angola ou regional,ou ambos? Com sua definição não é diferente; arte,luta,dança,jogo,desporto,folclore,cultura popular,filosofia de vida.? E assim segue.
Mesmo com toda essa polêmica,algumas ideias parecem atingir um consenso. A capoeira envolve o praticante,emociona,cativa,empolga. Ela o convida,quase que invariavelmente, a experimentá-la.
Junto a este experimentar descompromissado da capoeira,mesmo sendo ele muitas vezes substituídos por uma valorização da performance, o aluno acabará por vivenciar a corporeidade, a ritmicidade, a consciência de sí, do outro e principalmente de como interagir com esse outro.
È neste ponto de tomada de consciência de sì e do outro que não pode ser desconsiderada a idéia do auto conhecimento como ponte para a estruturação de uma boa auto-estima ". Quem sou eu? Continua sendo  a pergunta mais importante da existência humana". (Branden, 1997 b: 09).
A capoeira pode ser ministrada como um simples atividade física,como luta ou instrumento de defesa pessoal,como elemento cultural e ainda como atividade lúdica,educativa; este enfoque será determinado pelo o universo onde ela for inserida, seja nas academias,nos clubes, em treinamentos de policias,nas universidades ou nas escolas de 1º e  2º graus.
Acredita-se que a auto estima possa ser trabalhada por  meio da capoeira,em qualquer ambiente onde esta atividade seja inserida; entretanto,por uma necessidade pratica de delimitação do escopo.
 A ideia de que a variedade de experiências propiciadas pela capoeira interfere na formação,não apenas física,mais também psicológica e comportamental do capoeirista,ou ainda,que a forma como ele aprende a se comportar na roda influencia ou até determina seus comportamentos no cotidiano, é defendida por vários autores,em sua maioria mestres ou professores de capoeira que reuniram  a esta experiência pratica uma formação acadêmica e uma postura científica para a pesquisa do universo da capoeira. Um desses autores é José Luiz Cirqueira Falcão,mestre de capoeira e professor de educação física. Em sua tese de mestrado,a qual discorre sobre a inclusão da capoeira nas escolas de 1º e 2º graus da rede pública do Distrito Federal,o autor apresenta um trecho de uma matéria escrita por Julie Weelock denominada capoeira para americano jogar e publicado pelo Jornal do Brasil em 11 de janeiro de 1989 com a seguinte afirmação: "a maneira como as pessoas de movimentam,pensam e se comportam na capoeira é a maneira como se movimentam,pensam e se comportam em suas vidas.

Esta capacidade de influencia da capoeira sobre o comportamento pode ser entendida pela multiplicidade de facetas que ela apresenta.É ao mesmo tempo dança,arte,luta,música e jogo (entre outros),o que oferece ao praticante uma rica diversidade de estímulos,não apenas no campo físico,mais também na musicalidade,no raciocínio,na criatividade.Enfim,permite a vivencia de todas as suas potencialidades além de criar sobre o aluno certo fascínio.
Após analisar diversos depoimentos de alunos e professores de capoeira da rede oficial do Distrito Federal,Falcão ( 1996) afirma:
Ficou bem claro,pelos depoimentos dos alunos e professores,que a capoeira é um instrumento que interfere concretamente na formação dos indivíduos.(...) A música,a arte,o desafio da luta, a ludicidade, exibição, a convivência em grupo,são elementos que despertam muita atenção,principalmente dos jovens. Nesse sentido a prática sistematizada e frequente da capoeira pode exercer grande influência no comportamento dos indivíduos.

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